sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Ler e Escrever - Nietzsche


De todo escrito só me agrada aquilo que a pessoa escreveu com seu sangue. Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é o espírito.

É dificil compreender sangue alheio: Eu detesto todos os ociosos que lêem. O que conhece o seu leitor já nada faz por seu leitor. Um século de leitores e o próprio espírito terá mal cheiro [...]

Noutro tempo o espírito era Deus; depois fez-se homem; agora fez-se populança.

O sangue escreve em máximas e com sangue não quer ser lido, mas decorado. Nas montanhas o caminho mais curto é o que medeia de cimo a cimo; mas para isto é preciso ter pernas altas [...]

O ar leve e puro, o próximo perigoe o espírito cheio de uma leve malícia, tudo isso se armoniza bem. Eu quero ter duendes em torno de mim porque sou valoroso. O valor que afugenta os fantasmas cria os seus próprios duendes; o valor quer rir.

Eu já não sinto um uníssono convosco; esta núvem que vejo abaixo de mim, esse negrume e o carregamento de que me rio, é exatamente a vossa núvem tempestuosa. Vós olhais para o alto quando desejais vos elevar. Eu como sou alto, olho para baixo.

Qual de vós pode estar alto e rir ao mesmo tempo?

O que escala elevados montes ri-se de todas as tragédias de sena e da vida. Valorosos, despreocupados, zombeteiros, violentos, eis como nos quer a sabedoria.[...]

Vós dizei-me: "a vida é uma carga pesada". Mas para que é vosso orgulho pela manhã e vossa submissão a tarde?

A vida é uma carga pesada mas não vos mostreis tão aflitos. Todos somos jumentos carrgados.

Queparecença temos com o cálice de rosas que treme porque oprime a gota de orvalho?

É verdade; amamos a vida não porque estamos acostumados à vida, mas ao amor.

Há sempre um que de loucura no amor; mas também há sempre um que de razão na loucura. E eu que estou bem na vida, creio que para saber de felicidade não há como as borboletas e as bolhas de sabão, e o que lhes assemelha entre os homens.

Vou revolutear estas almas aladase loucas, encantadoras e rebuliças, é o que arranca a Zaratustra lágrimas e canções.

Eu só podia crer em um Deus que soubesse dançar.

E quando vi me Demônio, pareceu-me sério, grave, profundo e solene: era o espírito do pesadelo. Por ele caem todas as coisas.

Não é com raiva, mas com riso que se mata. Adiante! matemos o espírito do pesadelo!

Eu aprendi a andar, por conseguinte corro. Eu aprendi a voar portanto não quero que me empurrem para mudar de lugar.

Agora sou leve, agora vôo, agora vejo por baixo de mim, agora salta em mim um deus.

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