Sentada no palco vazio,
Ela tomava conta consciência do teatro da sua vida.
O desejo de gozar batia no muro da inibição, do medo.
É certo seguir o padrão social
Ou o grito interior por liberdade?
Realiza todos o projetos!
Vive loucamente cada dia!
Ela era uma prisioneira das normas.
Estava perdida no palco enorme e vazio.
Talvez fizesse parte da trama
O rosto assustado iluminado pelo refletor.
Não sabia o que fazer:
A vontade dela como artista
Ou o que o público suplicava indiretamente.
Mudaria ou não o texto?
Tinha medo,
As lágrimas rolavam,
Rosto desesperado,
Circulação lenta,
Pés frios, suor gelado.
- Oh Deus...
Murmurio inútil.
Nada a pedir.
Não tinha forças para mudar a sena.
Não queria estar no palco,
O fim era invetável.
A dor no peito assolou.
As imagens se confundiam,
Misturava-se sons e cores.
Toda platéia assistia calada.
Os pais sorriam de orgulho,
Pensavam nos elogios,
Detalhes da festa de estréia.
Ela não aguentava tanta dor.
Começou a consentrar-se em si,
Perdendo-se em si...
Modificando sua essência.
Não mais importava o mundo,
Nem sentia o corpo como seu.
Restava entregar a consciência...
As cortinas se fecham.
Aplausos.
A platéia se reúne para o jantar .
Amam o sucesso, adoram o sucesso.
A atriz permanece morta
Atraz do tecido preto.
Este é o palco da vida,
Contraste de realidade
E aparência.