sábado, 22 de setembro de 2007

Aparência


Sentada no palco vazio,

Ela tomava conta consciência do teatro da sua vida.

O desejo de gozar batia no muro da inibição, do medo.

É certo seguir o padrão social

Ou o grito interior por liberdade?

Realiza todos o projetos!

Vive loucamente cada dia!


Ela era uma prisioneira das normas.

Estava perdida no palco enorme e vazio.

Talvez fizesse parte da trama

O rosto assustado iluminado pelo refletor.

Não sabia o que fazer:

A vontade dela como artista

Ou o que o público suplicava indiretamente.

Mudaria ou não o texto?


Tinha medo,

As lágrimas rolavam,

Rosto desesperado,

Circulação lenta,

Pés frios, suor gelado.

- Oh Deus...

Murmurio inútil.

Nada a pedir.

Não tinha forças para mudar a sena.

Não queria estar no palco,

O fim era invetável.

A dor no peito assolou.

As imagens se confundiam,

Misturava-se sons e cores.


Toda platéia assistia calada.

Os pais sorriam de orgulho,

Pensavam nos elogios,

Detalhes da festa de estréia.


Ela não aguentava tanta dor.

Começou a consentrar-se em si,

Perdendo-se em si...

Modificando sua essência.

Não mais importava o mundo,

Nem sentia o corpo como seu.

Restava entregar a consciência...


As cortinas se fecham.

Aplausos.

A platéia se reúne para o jantar .

Amam o sucesso, adoram o sucesso.

A atriz permanece morta

Atraz do tecido preto.


Este é o palco da vida,

Contraste de realidade

E aparência.

Totalmente Incompreenssíveis


Mal sabia ele, que seu maior amor

Teria o mesmo destino de cadela,

Que teve sua mãe, sua avó e

Todas as mulheres das gerações anteriores.

Ele voltaria a procurar o anjo que lhe fez

Chorar e sofrer,

Beber e vomitar,

Gritar e morder,

Odiar e se masturbar.

E a cadela?

Está doando um corpo desintegrado!


Mas vem arcanjo,

Para beijar e reviver toda mágoa

Com o ser perfeito dos seus sonhos...

Anjo que mais tarde acabou por matá-lo

De várias doenças causadas por seu próprio castigo.

Odiou tudo por não tê-la novamente.

Se ao menos ela não o tivesse traído...

Não teria procurado a condenada de gerações.

Quis cometer um homicídio,

Mas não tinha coragem, nem forças para vencê-la.


Alí estava o fim de um vira-lata.

Neste dia, a mulher não deixou cair nenhuma lágrima,

Ele não a merecia.

Apenas anotou na agenda:

CEMITÉRIO SANTO ESPEDITO, ALA 2, TÚMULO 4.

Febre


Ao anoitecer ela veio calma.

Aquecendo os ossos e gelando a pele.

Fazendo arder fundo até a alma.

Murmurei delirando: onde está ele?


Para onde querem me levar?

Mas quem é, se não há ninguém?!

Nenhum demônio para me salvar.

Acho que vou morrer, ir pro além.


Os olhos liberam lágrimas.

"Mamãe, nao estou chorando".

Sou a mais perfeita dos paradigmas,

Aos poucos vou me entregando.


Sinto que alguém vem.

Ouço no corredor seus passos.

Tem esperança, sempre tem!

Carrega-me em seus braços.


Desperto na banheira.

Água fria em meu corpo nú.

Banha-me calma, inteira.

Choro: não sei quem é tu...


Me recupero, estou melhor.

A febre quase passou.

A familia ao redor...

O medo ainda restou.


Eu sei que ela volta.

E joga-me na cama.

Depois bate alguém à porta.

Cura-me e jura que me ama.

Abrigo




É protetora a escuridão


Da caverna de Platão.


Lua, só você quero ver!


Sentir...nada acontecer.




Olho para fora.


Vejo o brilho prateado.


Dentro a dor devora.


Preciso você ao meu lado.




Canta, minha musa lua.


Uiva e exala seu luar.


Despe-se, é tãobela nua...


Brilha, vem comigo cantar.




Noite, estou apaixonada,


Mas não quero o amor!


Aceito o absoluto, o nada.


Evito caos, vicio e dor.




Êxtase


Precisava chorar,

Como criança diante da dor.


Cantei músicas,

Que não sabia a letra

Nem a melodia.

"Soa doce voz,

Expressa sua melancolia".


As palavras fluíam,

Sem passar pelo intelecto.

Como preguiçosa sonata interior

As lágrimas caíam.


Dormi nua,

Como fui feita nas entranhas.

Não tinha ousadia

Para sentir receio...

Saíria pelas ruas.

Pureza não tem vergonha.


Acordei:

Deus, por que não condena este animal?

Este humano se recusa a ser racional.


Terra


Respiração lenta.

O organismo esqueceu

de respirar.


Coração a 40bm.

O pensamento vazio

Decidiu controlar

A fisiologia.


Nem dor,

Nem a ausência dela.

Nem raciocínio,

Ou a falta dele.

Sentimentos: vazio.

A esperança: nada.


Não é humano!

Não é o ar!

Não se anima, fogo!

Não se acalma, água!


Basta estar

No meio da

Terra.

Tortura no Paraíso


Os olhos arregalados me encaram.

Fita os olhos no vazio e sorri.

Vai bater-me, mão no ar param.

Novamente olha o vazio.fico aqui.


Contemplo seu delírio parada.

Se o amanhã não existir, hoje é eterno.

Sinto medo, revolta. Não faço nada.

Quando me toca, leva ao céu meu inferno.


Eu não suportaria, jamais suportaria

Viver sem você. Sinto a vida acabando...

Mesmo que grite, sei que não suportaria,

Existiríamos pelo mundo vagando.


Por que age assim, meu amor?

Não devia expandir a nossa dor.

Vai novamente marchar pela casa?

Quero fujir para longe, criar azas...


Sai na velocidade do ar.

Será que quer se matar?

Ajoelho-me e imploro.

lembro como reza, choro.


Se o amanhã não existir

O nosso hoje é eterno.

Vai, meu querido, onde quiser ir,

Beija-me antes de jogar no inferno.

Predestinada


Respirou profundamente,

Arqueou o corpo em um espasmo lento,

Conteve o último gemido,

Abrio os olhos...

Desencanto.


Queria eternidades perfeitas.

Desejava a intensidade do fogo,

Consumindo toda melancolia

dessa minha verdade vazia.


São setenta chibatadas,

Condenação da ausência moral.

A escrava sentiu prazer.

A escrava implora.

Ela paga pela dor e chora.


Não há existência,

Somente a experiência.

Não existe Mestre, nem senhor,

Apenas uma amante da dor.


Que importa a insensatez?

Brinda, bom vinho ao sangue.

Organismo faz uma canção.

A boca implora mais emoção.


Mulher é maldita,

Sorrisos inocentes na traição.

O carrasco grita e chama.

Diz que só tortura porque ama.


A criança paraliza-se,

Pede sem palavras.

Coração puro regeita poder,

Suplica humilhação e prazer.

Fragilidade


Uma chuva intensa cai.

As janelas do quarto abro.

Vejo alguém que no relento vai.

Sem rumo, futuro macabro.


Será que sente frio e chora?

Fico parada a imaginar.

A realidade me apavora.

Ó Deus, Faz-me sonhar!


As casas erguem-se imperiais.

Corpos amontoam-se ao relento.

Esperança eles não tem mais.

Sem fazer nada não aguento.


Sou muito covarde, senhor.

Esitar quando devia ter ousadia.

Ficar apenas admirando a dor

E desejando vivê-la no meu dia.


Nos mendogos vejo liberdade,

O espírito de desprendimento.

Sem excessos de vaidade...

Mas seus dias são tormento!


Queria deles ter a alma.

Aquecer, limpar a ferida.

Amar e ajir com calma.

Entregar a minha vida!

Sonho Sideral






Vejo um Anjo passar,

Como o vento solar.

As trevas tornaram-se luz,

Luz que meus passos conduz.





Sinto estrelas brilhar.

Banho-me ao luar.

Faço na terra, translação.

Entôo a mais linda canção.



Está acabando a energia.

Acordo com a luz do dia.
De manhã o ar é frio.
Tenho medo do vazio.

Lei


A natureza compensa

As atitudes mais cruéis.

Se regozija com migalhas.

Canta para adormecer.

Suspira para morrer.


O organismo adapta-se,

Encontra maravilhas inexistentes.

Armoniza solidão.

Encanta-se com folhas secas.


Os Ipês estão floridos,

Casais apaixonados passeiam.

O vento leve refresca

Minha pele em chamas.


Deito sobre a grama,

Sintoseu cheiro fresco.

Abraço-a, namoro.

Deixo lágrimas vencerem

Em mim,

Um Deus abandonado e destruído.

Humano


Vê o céu sobre a tua cabeça!

Contempla todas as tempestades.

Admira o grande sol-rei.

Do azul ao cinza te é familiar.


Ainda não percebeu?

Estas descargas elétricas

São produzidas em tua mente.

Teu córtex luta por respostas,

O céu reage ao seu estímulo.


O céu está no seu cérebro.

A terra são funções orgânicas.

O universo todo cabe

Em um corpo humano.

Depois do sistema solar

É inconsciente.


Desdobra-te,

Viaja pelo teu paraíso.

Primavera


Começou a linda primavera.

Veio trazer mais vida para a terra.

O pólem se espalha pelo canteiro,

E meu nariz arde o dia inteiro.


As aves cantam ao despertar.

Um som chato para acordar.

Proclamo: Oh! estou apaixonada,

Mas ele por mim, sente nada.


Ele é de mais pura beleza.

Os cavalos saiu para domar.

É o ser mais perfeito da natureza.

Clarão na minha noite sem luar.


Eu ainda sou selvagem,

Mostra-me sua superioridade.

Faz-me ver a paisagem,

Sem meu olhar de vaidade.


Tenho ciúmes da vaca,

Da águia e da galinha.

Cobra aranha e paca.

Ama elas, me deixa sozinha!


Primavera! primavera! primavera!

Seu astral me transforma em ferra.

Roubou meu grande amor...

Primavera! lhe declaro minha dor!