sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ritual espontâneo


A cruz na entrada do mausoléu

Mostrava o indício de espiritualidade

Na mente da Mulher,

Que com pés firmes, sorria.

Remexeu o corpo em um espasmo,

Semelhante a onda de frio

Provocada pelo desejo e pavor,

Mas possuia apenas desejo.

Sentia as torções nos músculos das entranhas.

Passos largos à porta:

- Desafio! Não acha ridículo sobreviver

À custa de minhas energias inconscientes?

Rangia os dentes para conter a violência,

Com que arrancaria o defunto lotado de vermes,

E jogaria nas paredes.

- Que culpa tenho eu por satão não existir?

Covarde! Nogento!

E eu serei como você...

Sentou-se na lápide,

Cantou com voz angelical,

Alma desperta, melodia dos ancestrais.

Nenhum ruído.

- Mentiram! Odeio os idiotas

Que criaram esta lenda

E a outra história infantil semelhante a esta.

Arrancou a própria capa, sacudiu-a e dançou.

Sentia-se nova, sentia-se viva,

O corpo reagia a excitação.

- Me disseram que ouve provocações!

Mentirosos!

Manobrava a capa preta,

Rebolava, mordia os lábios,

Cantava, sentava-se na lápide,

Acariciava a cruz, gritava palavões.

Tudo continuava em ordem.

Blasfemou Deus e o Demônio,

Invocou espíritos e nenhum apareceu.

Nenhuma prova, nada concreto.

- Só queria uma visão!

Possuída de grande revolta,

Forçou os dois dedos na garganta,

Vomitou sobre o túmulo,

Mas nada novo ocorreu.

Ficou a gosma verde da salada do almoço.

Scou o vômito até os dedos

Possuírem hematomas e ficarem edemaciados.

A dor parecia oásis.

- Mentiram!

Retirou a navalha do bolso

Pensando em deixar marcas.

Queria dúvidas sobre asua morte.

A filha morreria quando lhe destruísse

Toda mitologia, morreria como ela.

Morreria sabendo que satã

Não aceitava suas almas de bruxa.

Lambeu o fio da navalha que brinhava sob a luz da lua,

A dor tornava-se volúpia.

Molhou o dedo no sangue

E escreveu no chão as últimas palavras:

MORTE: ORGASMO DA ALMA.

bebeu o sangue do chão.

Lambeu até a primeira palavra

Descrever seu estado.

O mesmo lugar veria, anos depois, a mesma sena,

Ouviria o próximo murmúrio:

- Preferia morrer na fogueira

A ver apagadas minhas ilusões místicas.

O mesmo chão bebeu o sangue

Descedente das almas que gritaram por verdade.

Mas ninguém entendeu: "morreram em ritual".

Quando piso no mesmo solo,

Olho para a cruz que brilha ao sol.

Falo a quem nao poderá responder:

Ambiente, tu compreendeste mais

Que o raciocínio humano poderia.

Corpo inerte da alcova, tu tens verdades

Que eu jamais poderia aceitar.

Há algo que não se pode evitar na queda de deuses:

Eles não simplismente caem como qualquer ilusão,

Desmoronam, espatifam-se no chão,

Não se pode evitar a morte

Se avida é apenas uma ilusão.

Se eu acordar da vida

Vou rir deste sonho.

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