A cruz na entrada do mausoléu
Mostrava o indício de espiritualidade
Na mente da Mulher,
Que com pés firmes, sorria.
Remexeu o corpo em um espasmo,
Semelhante a onda de frio
Provocada pelo desejo e pavor,
Mas possuia apenas desejo.
Sentia as torções nos músculos das entranhas.
Passos largos à porta:
- Desafio! Não acha ridículo sobreviver
À custa de minhas energias inconscientes?
Rangia os dentes para conter a violência,
Com que arrancaria o defunto lotado de vermes,
E jogaria nas paredes.
- Que culpa tenho eu por satão não existir?
Covarde! Nogento!
E eu serei como você...
Sentou-se na lápide,
Cantou com voz angelical,
Alma desperta, melodia dos ancestrais.
Nenhum ruído.
- Mentiram! Odeio os idiotas
Que criaram esta lenda
E a outra história infantil semelhante a esta.
Arrancou a própria capa, sacudiu-a e dançou.
Sentia-se nova, sentia-se viva,
O corpo reagia a excitação.
- Me disseram que ouve provocações!
Mentirosos!
Manobrava a capa preta,
Rebolava, mordia os lábios,
Cantava, sentava-se na lápide,
Acariciava a cruz, gritava palavões.
Tudo continuava em ordem.
Blasfemou Deus e o Demônio,
Invocou espíritos e nenhum apareceu.
Nenhuma prova, nada concreto.
- Só queria uma visão!
Possuída de grande revolta,
Forçou os dois dedos na garganta,
Vomitou sobre o túmulo,
Mas nada novo ocorreu.
Ficou a gosma verde da salada do almoço.
Scou o vômito até os dedos
Possuírem hematomas e ficarem edemaciados.
A dor parecia oásis.
- Mentiram!
Retirou a navalha do bolso
Pensando em deixar marcas.
Queria dúvidas sobre asua morte.
A filha morreria quando lhe destruísse
Toda mitologia, morreria como ela.
Morreria sabendo que satã
Não aceitava suas almas de bruxa.
Lambeu o fio da navalha que brinhava sob a luz da lua,
A dor tornava-se volúpia.
Molhou o dedo no sangue
E escreveu no chão as últimas palavras:
MORTE: ORGASMO DA ALMA.
bebeu o sangue do chão.
Lambeu até a primeira palavra
Descrever seu estado.
O mesmo lugar veria, anos depois, a mesma sena,
Ouviria o próximo murmúrio:
- Preferia morrer na fogueira
A ver apagadas minhas ilusões místicas.
O mesmo chão bebeu o sangue
Descedente das almas que gritaram por verdade.
Mas ninguém entendeu: "morreram em ritual".
Quando piso no mesmo solo,
Olho para a cruz que brilha ao sol.
Falo a quem nao poderá responder:
Ambiente, tu compreendeste mais
Que o raciocínio humano poderia.
Corpo inerte da alcova, tu tens verdades
Que eu jamais poderia aceitar.
Há algo que não se pode evitar na queda de deuses:
Eles não simplismente caem como qualquer ilusão,
Desmoronam, espatifam-se no chão,
Não se pode evitar a morte
Se avida é apenas uma ilusão.
Se eu acordar da vida
Vou rir deste sonho.
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