sábado, 22 de março de 2008

Tortura




As páginas do diário ficam vazias,



Não quero escrever nada além



De um nome que brilhou nas páginas anteriores.



O telefone toca outra vez,



Nem quero mais consolo,



Dispenso vossas condolências.






Hoje o tempo fechou,



Não tive como fujir.



A cama me acolheu nua,



Tão doente e tão só,



Sem sonhos, sem rima.






O violão canta melancolia,



Não quero ouvir seu choro



Para sentir minhas lágrimas.



Quero acordar, mas não dormi.



Quero acordar da vida que não vivi.






Meu demônio fica aos pés,



Não ri para animar meu sarcasmo.



Detesto quando ele é silêncio,



Mas demônios sabem torturar,



Demônios amam e odeiam poetas.






"Que queres tu com felicidade?"



Pergunta-me somente para ver



Meu ID reprimir-se de dor.



"Acaso não te contei das armadinhas?"



Suspiro, ele sabe que vou chorar,



Mas não pode imaginar



Que estou doente demais,



Magoada demais para humilhar-me.






O inimigo inclina-se ao meu olhar,



Provoca-me com palavras doces.



Ele sabe o quanto isso me irrita,



O quanto a misericórdia o eleva sobre mim.



Como meu dono, me afaga,



Acaricia minha nudez,



Para que eu aceite substituida



Pelo seu ego.






É como mágica.



Não sei o que é bom ou mal.



Nada degrada mais que a bondade.



Nada é mais mal que a verdade.



Dispenso vossas condolências,



Eu e meu demônio passamos bem.