domingo, 23 de setembro de 2007

Estabilidade...



Olhava fixo para sua mão, brincava com seus dedos, muito maiores que os meus. Empurava e puxava uns contra os outros. Sabia que eu estava manipulando não apenas seus dedos, também tinha os segredos entre meus dedinhos e empurava umas pessoas contra as outras, depois sorria ao ver seu embaraço. Mas não entendia até que ponto sua mente me deixava vazão à verdade, se conhecia o meu jogo...


Eramos mundos unidos, mas não fundidos! Eu sentia raiva dos seus segredos, das meias-verdades, sentia raiva de mim mesma por saber, porém, sorria e brincava compulsivamente para combatê-la.


Naquele momento entendi o quanto as atitudes das pessoas que amamos, aqueles ideais revolucionários nos magoam, nos deixam preocupados...Me arrependi pelos meus planos de adolescente. Também tive consciência do que é prudente. Juro que nem por um instante senti ciumes, meu nervosismo e meu sorriso eram originais.


Estava alí sem esperança. A chuva lá fora parecia uma carícia para nossa atmosfera. Eu não queria brigar, mas precisava lhe dizer que a revolta e a liberdade aprisionam e nós estavamos no cárcere.


Devia estar chorando, como fazem a maioria das mulheres, entretanto as lágrimas não desciam e a tristeza fujia. Permanecia apenas a alerta da minha família iluminada em vozes e imagens sobre as nossas mãos.


Não entendo o porque nós insistimos e resistimos aos desafios de todas as pessoas que amavamos. Estava livre nas mãos de alguém que só me machucava.


Ele ficava parado, permitindo-se manipular e tomar decisões, mas eu sabia que era só teatro de bondade e nunca me entregaria seus sentimentos. Queria soprar ao vento suas palavras vazias... E mais tarde soprei ao nada todas estas ilusões.


A minha verdade é que não sei onde a verdade mora, mas sinto quando ela julga.

Hoje diria ao meu antigo Eu: "as partes constituintes apenas passam", como disse Goethe

Lendas


A voz era calma e doce,

Em contraste com a tempestade:

"No princípio, homem e mulher eram um único ser,

Unidos no mesmo corpo, completos,

Muito temível aos deuses do Olimpo,

Sua forma era insuperável.

Os deuses tinham medo de serem substituídos.

Então separaram em duas partes...

Sorte aos deuses, separados eram frágeis

E sentiam-se perdidos até encontrarem sua outra parte".

"Acredita nisso?"

"Não exatamente, esta teoria foi considerada uma metáfora.

Um desconhecido propôs:

Quando surgiu o universo existia apeenas um ser 'Deus'

Sofreu uma mutação 'morte'

E se dividiu em dois 'homem e mulher: Adão e Eva',

Os dois seres uniram-se e criaram mais Abel e Caín.

Na outra mutação Deus era quatro.

Assim a humanidade evoluiu

E toda ela unida sem distinções formaria novamente

O espírito de Deus".

"O que justifica a cristandade predominar?"

"O amor é a unica razão

Para que atravez dos séculos,

Pessoas sofreram, encontraram-se,

Uniram-se e morreram.

O único motivo da existência na terra,

Único a calar a mente humana.

Não torna louco o sábio, nem egoísta.

Porque o amor é paciente, prestativo,

Não é invejoso, não se ostenta,

Não se enche de orgulho.

Nada faz de inconveniente,

Não busca seu próprio interesse,

Não se irrita, não guarda rancor.

Não se alegra com a ingustiça,

Mas se regozija com a verdade.

Tudo desculpa, tudo crê,

Tudo espera, tudo suporta.


Restou apenas o silêncio

A trazer julgamento para as meninas,

Uma o oposto da outra...

E os olhos a brilhar

Não dando-se conta do tempo

Que passaram longe,

Nem das mudanças de cada uma.


(difame)


Estátua



Os olhos estão fixos no vazio.


Na mente, sequer um pensamento,


Nem o mais natural ou vago.


A expressão é impassivel, perfeita.


O coração pulsa sem motivo.


Qual é o valor da sua alma?


Nenhum indício aparente de vida.


Nenhuma demonstração.


Não vai sofrer.


Não vai amar.




Os reflectores brilham.


Atriz! já terminou...


Curve-se diante da platéia!

Nesta noite






Maçãs caem das núvens.



Parece ser caprixo de libido.



A moral está cheia de ferrugen.



Jogue tudo fora! vem comigo...






Aqui pode viver sua essência,



Sem máscaras, sem piedade.



Atos não regridem à penitência.



Pequenos erros são liberdade.






Sei que tem um limite interior.



Sei que seu coração é amor.



Deixe tudo! vem comigo



Viver fora destas paredes.



Os prédios são cadeias.






Queria adormecer junto ao fogo



Ouvindo você cantar



Para tentar esquecer o frio.



Sentir o sol me acordar.






Vamos comer o maná dodeserto.



Roubar as energias da terra.



Contemplar o céu estrelado.



Somos natureza, meu amado!



Este universo suspira por nós.






Talvez eu devesse confessar,



Que meu sonho é só poesia.



O amado é uma criação.



E este mundo vã utopia!