sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Suspiros Insanos




Na noite escura e nua,


Repleta de loucos ruídos,


Toda razão se atenua.


Os amantes se tocam.




Não haverá retroceder.


A verdade é verdade com magia.


Os músculos reagem a ação.


Corpo macio...molhado...


A fantasia faz a excitação.




Os dedos desesperados penetram


As ondas ruivas capilares.


Os gemidos roucos deletam


As convenções milenares.




Ato que parece delicado.


O interior grita violento,


É a destruição do ser amado!


Isso é nobre sentimento!




Libera o instinto animal,


Para unir dois num só.


Desejo sôfrego incondicional


Consumindo-se sobre o túmulo.




O prazer ousa interrogar.


O defunto não responde, grita:


"Sou vazio pra prazer vulgar!"


O outro sorri, não esita.


"Mostro-me e mato solidão.


Ataco uma vítima especial,


Preencho seu vazio de paixão".




O cadáver lamenta, chora.


Sente os vermes lhe devorar.


Suspira e o prazer não ignora


Não quer com ele terminar.


Se deixa apodrecer, implora...




Sexo sobre o túmulo. Frenético.


Se maldizem, se condenam, se deleitam.


O corpo ficará esquelético


e será comida de vermes!

domingo, 23 de setembro de 2007

Estabilidade...



Olhava fixo para sua mão, brincava com seus dedos, muito maiores que os meus. Empurava e puxava uns contra os outros. Sabia que eu estava manipulando não apenas seus dedos, também tinha os segredos entre meus dedinhos e empurava umas pessoas contra as outras, depois sorria ao ver seu embaraço. Mas não entendia até que ponto sua mente me deixava vazão à verdade, se conhecia o meu jogo...


Eramos mundos unidos, mas não fundidos! Eu sentia raiva dos seus segredos, das meias-verdades, sentia raiva de mim mesma por saber, porém, sorria e brincava compulsivamente para combatê-la.


Naquele momento entendi o quanto as atitudes das pessoas que amamos, aqueles ideais revolucionários nos magoam, nos deixam preocupados...Me arrependi pelos meus planos de adolescente. Também tive consciência do que é prudente. Juro que nem por um instante senti ciumes, meu nervosismo e meu sorriso eram originais.


Estava alí sem esperança. A chuva lá fora parecia uma carícia para nossa atmosfera. Eu não queria brigar, mas precisava lhe dizer que a revolta e a liberdade aprisionam e nós estavamos no cárcere.


Devia estar chorando, como fazem a maioria das mulheres, entretanto as lágrimas não desciam e a tristeza fujia. Permanecia apenas a alerta da minha família iluminada em vozes e imagens sobre as nossas mãos.


Não entendo o porque nós insistimos e resistimos aos desafios de todas as pessoas que amavamos. Estava livre nas mãos de alguém que só me machucava.


Ele ficava parado, permitindo-se manipular e tomar decisões, mas eu sabia que era só teatro de bondade e nunca me entregaria seus sentimentos. Queria soprar ao vento suas palavras vazias... E mais tarde soprei ao nada todas estas ilusões.


A minha verdade é que não sei onde a verdade mora, mas sinto quando ela julga.

Hoje diria ao meu antigo Eu: "as partes constituintes apenas passam", como disse Goethe

Lendas


A voz era calma e doce,

Em contraste com a tempestade:

"No princípio, homem e mulher eram um único ser,

Unidos no mesmo corpo, completos,

Muito temível aos deuses do Olimpo,

Sua forma era insuperável.

Os deuses tinham medo de serem substituídos.

Então separaram em duas partes...

Sorte aos deuses, separados eram frágeis

E sentiam-se perdidos até encontrarem sua outra parte".

"Acredita nisso?"

"Não exatamente, esta teoria foi considerada uma metáfora.

Um desconhecido propôs:

Quando surgiu o universo existia apeenas um ser 'Deus'

Sofreu uma mutação 'morte'

E se dividiu em dois 'homem e mulher: Adão e Eva',

Os dois seres uniram-se e criaram mais Abel e Caín.

Na outra mutação Deus era quatro.

Assim a humanidade evoluiu

E toda ela unida sem distinções formaria novamente

O espírito de Deus".

"O que justifica a cristandade predominar?"

"O amor é a unica razão

Para que atravez dos séculos,

Pessoas sofreram, encontraram-se,

Uniram-se e morreram.

O único motivo da existência na terra,

Único a calar a mente humana.

Não torna louco o sábio, nem egoísta.

Porque o amor é paciente, prestativo,

Não é invejoso, não se ostenta,

Não se enche de orgulho.

Nada faz de inconveniente,

Não busca seu próprio interesse,

Não se irrita, não guarda rancor.

Não se alegra com a ingustiça,

Mas se regozija com a verdade.

Tudo desculpa, tudo crê,

Tudo espera, tudo suporta.


Restou apenas o silêncio

A trazer julgamento para as meninas,

Uma o oposto da outra...

E os olhos a brilhar

Não dando-se conta do tempo

Que passaram longe,

Nem das mudanças de cada uma.


(difame)


Estátua



Os olhos estão fixos no vazio.


Na mente, sequer um pensamento,


Nem o mais natural ou vago.


A expressão é impassivel, perfeita.


O coração pulsa sem motivo.


Qual é o valor da sua alma?


Nenhum indício aparente de vida.


Nenhuma demonstração.


Não vai sofrer.


Não vai amar.




Os reflectores brilham.


Atriz! já terminou...


Curve-se diante da platéia!

Nesta noite






Maçãs caem das núvens.



Parece ser caprixo de libido.



A moral está cheia de ferrugen.



Jogue tudo fora! vem comigo...






Aqui pode viver sua essência,



Sem máscaras, sem piedade.



Atos não regridem à penitência.



Pequenos erros são liberdade.






Sei que tem um limite interior.



Sei que seu coração é amor.



Deixe tudo! vem comigo



Viver fora destas paredes.



Os prédios são cadeias.






Queria adormecer junto ao fogo



Ouvindo você cantar



Para tentar esquecer o frio.



Sentir o sol me acordar.






Vamos comer o maná dodeserto.



Roubar as energias da terra.



Contemplar o céu estrelado.



Somos natureza, meu amado!



Este universo suspira por nós.






Talvez eu devesse confessar,



Que meu sonho é só poesia.



O amado é uma criação.



E este mundo vã utopia!

sábado, 22 de setembro de 2007

Aparência


Sentada no palco vazio,

Ela tomava conta consciência do teatro da sua vida.

O desejo de gozar batia no muro da inibição, do medo.

É certo seguir o padrão social

Ou o grito interior por liberdade?

Realiza todos o projetos!

Vive loucamente cada dia!


Ela era uma prisioneira das normas.

Estava perdida no palco enorme e vazio.

Talvez fizesse parte da trama

O rosto assustado iluminado pelo refletor.

Não sabia o que fazer:

A vontade dela como artista

Ou o que o público suplicava indiretamente.

Mudaria ou não o texto?


Tinha medo,

As lágrimas rolavam,

Rosto desesperado,

Circulação lenta,

Pés frios, suor gelado.

- Oh Deus...

Murmurio inútil.

Nada a pedir.

Não tinha forças para mudar a sena.

Não queria estar no palco,

O fim era invetável.

A dor no peito assolou.

As imagens se confundiam,

Misturava-se sons e cores.


Toda platéia assistia calada.

Os pais sorriam de orgulho,

Pensavam nos elogios,

Detalhes da festa de estréia.


Ela não aguentava tanta dor.

Começou a consentrar-se em si,

Perdendo-se em si...

Modificando sua essência.

Não mais importava o mundo,

Nem sentia o corpo como seu.

Restava entregar a consciência...


As cortinas se fecham.

Aplausos.

A platéia se reúne para o jantar .

Amam o sucesso, adoram o sucesso.

A atriz permanece morta

Atraz do tecido preto.


Este é o palco da vida,

Contraste de realidade

E aparência.

Totalmente Incompreenssíveis


Mal sabia ele, que seu maior amor

Teria o mesmo destino de cadela,

Que teve sua mãe, sua avó e

Todas as mulheres das gerações anteriores.

Ele voltaria a procurar o anjo que lhe fez

Chorar e sofrer,

Beber e vomitar,

Gritar e morder,

Odiar e se masturbar.

E a cadela?

Está doando um corpo desintegrado!


Mas vem arcanjo,

Para beijar e reviver toda mágoa

Com o ser perfeito dos seus sonhos...

Anjo que mais tarde acabou por matá-lo

De várias doenças causadas por seu próprio castigo.

Odiou tudo por não tê-la novamente.

Se ao menos ela não o tivesse traído...

Não teria procurado a condenada de gerações.

Quis cometer um homicídio,

Mas não tinha coragem, nem forças para vencê-la.


Alí estava o fim de um vira-lata.

Neste dia, a mulher não deixou cair nenhuma lágrima,

Ele não a merecia.

Apenas anotou na agenda:

CEMITÉRIO SANTO ESPEDITO, ALA 2, TÚMULO 4.

Febre


Ao anoitecer ela veio calma.

Aquecendo os ossos e gelando a pele.

Fazendo arder fundo até a alma.

Murmurei delirando: onde está ele?


Para onde querem me levar?

Mas quem é, se não há ninguém?!

Nenhum demônio para me salvar.

Acho que vou morrer, ir pro além.


Os olhos liberam lágrimas.

"Mamãe, nao estou chorando".

Sou a mais perfeita dos paradigmas,

Aos poucos vou me entregando.


Sinto que alguém vem.

Ouço no corredor seus passos.

Tem esperança, sempre tem!

Carrega-me em seus braços.


Desperto na banheira.

Água fria em meu corpo nú.

Banha-me calma, inteira.

Choro: não sei quem é tu...


Me recupero, estou melhor.

A febre quase passou.

A familia ao redor...

O medo ainda restou.


Eu sei que ela volta.

E joga-me na cama.

Depois bate alguém à porta.

Cura-me e jura que me ama.

Abrigo




É protetora a escuridão


Da caverna de Platão.


Lua, só você quero ver!


Sentir...nada acontecer.




Olho para fora.


Vejo o brilho prateado.


Dentro a dor devora.


Preciso você ao meu lado.




Canta, minha musa lua.


Uiva e exala seu luar.


Despe-se, é tãobela nua...


Brilha, vem comigo cantar.




Noite, estou apaixonada,


Mas não quero o amor!


Aceito o absoluto, o nada.


Evito caos, vicio e dor.




Êxtase


Precisava chorar,

Como criança diante da dor.


Cantei músicas,

Que não sabia a letra

Nem a melodia.

"Soa doce voz,

Expressa sua melancolia".


As palavras fluíam,

Sem passar pelo intelecto.

Como preguiçosa sonata interior

As lágrimas caíam.


Dormi nua,

Como fui feita nas entranhas.

Não tinha ousadia

Para sentir receio...

Saíria pelas ruas.

Pureza não tem vergonha.


Acordei:

Deus, por que não condena este animal?

Este humano se recusa a ser racional.


Terra


Respiração lenta.

O organismo esqueceu

de respirar.


Coração a 40bm.

O pensamento vazio

Decidiu controlar

A fisiologia.


Nem dor,

Nem a ausência dela.

Nem raciocínio,

Ou a falta dele.

Sentimentos: vazio.

A esperança: nada.


Não é humano!

Não é o ar!

Não se anima, fogo!

Não se acalma, água!


Basta estar

No meio da

Terra.

Tortura no Paraíso


Os olhos arregalados me encaram.

Fita os olhos no vazio e sorri.

Vai bater-me, mão no ar param.

Novamente olha o vazio.fico aqui.


Contemplo seu delírio parada.

Se o amanhã não existir, hoje é eterno.

Sinto medo, revolta. Não faço nada.

Quando me toca, leva ao céu meu inferno.


Eu não suportaria, jamais suportaria

Viver sem você. Sinto a vida acabando...

Mesmo que grite, sei que não suportaria,

Existiríamos pelo mundo vagando.


Por que age assim, meu amor?

Não devia expandir a nossa dor.

Vai novamente marchar pela casa?

Quero fujir para longe, criar azas...


Sai na velocidade do ar.

Será que quer se matar?

Ajoelho-me e imploro.

lembro como reza, choro.


Se o amanhã não existir

O nosso hoje é eterno.

Vai, meu querido, onde quiser ir,

Beija-me antes de jogar no inferno.

Predestinada


Respirou profundamente,

Arqueou o corpo em um espasmo lento,

Conteve o último gemido,

Abrio os olhos...

Desencanto.


Queria eternidades perfeitas.

Desejava a intensidade do fogo,

Consumindo toda melancolia

dessa minha verdade vazia.


São setenta chibatadas,

Condenação da ausência moral.

A escrava sentiu prazer.

A escrava implora.

Ela paga pela dor e chora.


Não há existência,

Somente a experiência.

Não existe Mestre, nem senhor,

Apenas uma amante da dor.


Que importa a insensatez?

Brinda, bom vinho ao sangue.

Organismo faz uma canção.

A boca implora mais emoção.


Mulher é maldita,

Sorrisos inocentes na traição.

O carrasco grita e chama.

Diz que só tortura porque ama.


A criança paraliza-se,

Pede sem palavras.

Coração puro regeita poder,

Suplica humilhação e prazer.

Fragilidade


Uma chuva intensa cai.

As janelas do quarto abro.

Vejo alguém que no relento vai.

Sem rumo, futuro macabro.


Será que sente frio e chora?

Fico parada a imaginar.

A realidade me apavora.

Ó Deus, Faz-me sonhar!


As casas erguem-se imperiais.

Corpos amontoam-se ao relento.

Esperança eles não tem mais.

Sem fazer nada não aguento.


Sou muito covarde, senhor.

Esitar quando devia ter ousadia.

Ficar apenas admirando a dor

E desejando vivê-la no meu dia.


Nos mendogos vejo liberdade,

O espírito de desprendimento.

Sem excessos de vaidade...

Mas seus dias são tormento!


Queria deles ter a alma.

Aquecer, limpar a ferida.

Amar e ajir com calma.

Entregar a minha vida!

Sonho Sideral






Vejo um Anjo passar,

Como o vento solar.

As trevas tornaram-se luz,

Luz que meus passos conduz.





Sinto estrelas brilhar.

Banho-me ao luar.

Faço na terra, translação.

Entôo a mais linda canção.



Está acabando a energia.

Acordo com a luz do dia.
De manhã o ar é frio.
Tenho medo do vazio.

Lei


A natureza compensa

As atitudes mais cruéis.

Se regozija com migalhas.

Canta para adormecer.

Suspira para morrer.


O organismo adapta-se,

Encontra maravilhas inexistentes.

Armoniza solidão.

Encanta-se com folhas secas.


Os Ipês estão floridos,

Casais apaixonados passeiam.

O vento leve refresca

Minha pele em chamas.


Deito sobre a grama,

Sintoseu cheiro fresco.

Abraço-a, namoro.

Deixo lágrimas vencerem

Em mim,

Um Deus abandonado e destruído.

Humano


Vê o céu sobre a tua cabeça!

Contempla todas as tempestades.

Admira o grande sol-rei.

Do azul ao cinza te é familiar.


Ainda não percebeu?

Estas descargas elétricas

São produzidas em tua mente.

Teu córtex luta por respostas,

O céu reage ao seu estímulo.


O céu está no seu cérebro.

A terra são funções orgânicas.

O universo todo cabe

Em um corpo humano.

Depois do sistema solar

É inconsciente.


Desdobra-te,

Viaja pelo teu paraíso.

Primavera


Começou a linda primavera.

Veio trazer mais vida para a terra.

O pólem se espalha pelo canteiro,

E meu nariz arde o dia inteiro.


As aves cantam ao despertar.

Um som chato para acordar.

Proclamo: Oh! estou apaixonada,

Mas ele por mim, sente nada.


Ele é de mais pura beleza.

Os cavalos saiu para domar.

É o ser mais perfeito da natureza.

Clarão na minha noite sem luar.


Eu ainda sou selvagem,

Mostra-me sua superioridade.

Faz-me ver a paisagem,

Sem meu olhar de vaidade.


Tenho ciúmes da vaca,

Da águia e da galinha.

Cobra aranha e paca.

Ama elas, me deixa sozinha!


Primavera! primavera! primavera!

Seu astral me transforma em ferra.

Roubou meu grande amor...

Primavera! lhe declaro minha dor!

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Vazio da galáxia




As folhas caem.
Uiva forte o vento.
Sem noite não aguento.

Os sons misturam-se
Às cores e ritmos.
O timbre se desfaz.


O pensamento é
Contrario ao pensador.
Pessoas são manchas
No horizonte.
As estrelas,
Meros resíduos de energia.
O simples é muito
Complexo.
Criam-se complexidades
Para entender
A simplicidade.

Eu sou.
E se eu não ser?
Nesta galáxia há Eu.
Não sou o universo?
Não sou eu!
Sol o sol.

Resquícios de realidade


Grandes mistérios da humanidade...

Dignidade não sustenta coragem.

Não fazem nenhuma laude,

Os que fazem, é libertinagem.



Ninguém nunca contrariou,

A verdade, machucada ficou.

A erosão destruiu os hieróglifos.

A chuva lavou o louvor.

Vejorostosamarelos de pavor,

Não há tempopara penitência.



As mãos repousam brancas.

Há muito esforço mental...

Mas o corpo sente as lanças!



Não resta espaço à barganha,

Só amor pela morte: Tanha!

O sangue lavará nossos pecados.



A alma não está mais aqui,

Fujiu para o céu: Samadi!

Está limpade restos orgânicos,

Não levou consigo nada,

Ou está aqui parada?

Visão



Vejo muitos olhos.


Olhos arregalados


Olhos melancólicos.


Olhos desolados.







Vejo o reflexo do olhar.


Esperançae felicidade.


No brilho do luar...


Amor e igualdade.





Sou uma mágica,



Eu crio olhares.


Sou dona do futuro,


Nunca ando no escuro.

Ritual espontâneo


A cruz na entrada do mausoléu

Mostrava o indício de espiritualidade

Na mente da Mulher,

Que com pés firmes, sorria.

Remexeu o corpo em um espasmo,

Semelhante a onda de frio

Provocada pelo desejo e pavor,

Mas possuia apenas desejo.

Sentia as torções nos músculos das entranhas.

Passos largos à porta:

- Desafio! Não acha ridículo sobreviver

À custa de minhas energias inconscientes?

Rangia os dentes para conter a violência,

Com que arrancaria o defunto lotado de vermes,

E jogaria nas paredes.

- Que culpa tenho eu por satão não existir?

Covarde! Nogento!

E eu serei como você...

Sentou-se na lápide,

Cantou com voz angelical,

Alma desperta, melodia dos ancestrais.

Nenhum ruído.

- Mentiram! Odeio os idiotas

Que criaram esta lenda

E a outra história infantil semelhante a esta.

Arrancou a própria capa, sacudiu-a e dançou.

Sentia-se nova, sentia-se viva,

O corpo reagia a excitação.

- Me disseram que ouve provocações!

Mentirosos!

Manobrava a capa preta,

Rebolava, mordia os lábios,

Cantava, sentava-se na lápide,

Acariciava a cruz, gritava palavões.

Tudo continuava em ordem.

Blasfemou Deus e o Demônio,

Invocou espíritos e nenhum apareceu.

Nenhuma prova, nada concreto.

- Só queria uma visão!

Possuída de grande revolta,

Forçou os dois dedos na garganta,

Vomitou sobre o túmulo,

Mas nada novo ocorreu.

Ficou a gosma verde da salada do almoço.

Scou o vômito até os dedos

Possuírem hematomas e ficarem edemaciados.

A dor parecia oásis.

- Mentiram!

Retirou a navalha do bolso

Pensando em deixar marcas.

Queria dúvidas sobre asua morte.

A filha morreria quando lhe destruísse

Toda mitologia, morreria como ela.

Morreria sabendo que satã

Não aceitava suas almas de bruxa.

Lambeu o fio da navalha que brinhava sob a luz da lua,

A dor tornava-se volúpia.

Molhou o dedo no sangue

E escreveu no chão as últimas palavras:

MORTE: ORGASMO DA ALMA.

bebeu o sangue do chão.

Lambeu até a primeira palavra

Descrever seu estado.

O mesmo lugar veria, anos depois, a mesma sena,

Ouviria o próximo murmúrio:

- Preferia morrer na fogueira

A ver apagadas minhas ilusões místicas.

O mesmo chão bebeu o sangue

Descedente das almas que gritaram por verdade.

Mas ninguém entendeu: "morreram em ritual".

Quando piso no mesmo solo,

Olho para a cruz que brilha ao sol.

Falo a quem nao poderá responder:

Ambiente, tu compreendeste mais

Que o raciocínio humano poderia.

Corpo inerte da alcova, tu tens verdades

Que eu jamais poderia aceitar.

Há algo que não se pode evitar na queda de deuses:

Eles não simplismente caem como qualquer ilusão,

Desmoronam, espatifam-se no chão,

Não se pode evitar a morte

Se avida é apenas uma ilusão.

Se eu acordar da vida

Vou rir deste sonho.

Delírio



Um suspiro seguido de soluços


Cala o silêncio por breves instantes,


Depois some.


Os olhos se fecham lentos,


Como se as pálpeblas


Embriagadas caíssem.


A dor pede um tempo.


A escuridão da mente some


Para surgir os raios de sol.


O corpo perde todos os sentidos


E cai desfalecido ao chão.


Mas não há morte,


Apenas a mente decidiu passear.






A manhã é bonita.


Passo pelos vidros da janela,


Como o sol.


Ah! como é lindo, anjo cruel!


O corpo descotraído sobre a cama,


Respiração lenta, olhos fechados.


Como é doce a expressão...perfeita...


Até parece saber amar...


Não acorde Anjo meu.


Não quero ver em seu rosto a rudez.


insensibilidade das decisões.


A inconstância dos atos.


Nossa superficialidade...


Prefiro ver-te apenas em sonhos.






Acordo emfim.


O que resta?


Lembrança de uma miragem.


Lágrimas que descem por um


Rosto pálido, abatido.






Um suspiro seguido de soluços,


Cala o silêncio por breves intantes,


Depois some.

CEMITÉRIO


MILÕES DE VIDA NESTE CHÃO.

Humanos primitivos...

O solo sentiu o canibalismo.

Tornou as guerras em carbono.


Este chão absorveu os restos de

VIDA.

Sentiu os vestígios de

ENERGIA.

Depois da

MORTE.

Fazendo

CRESCER

Plantas e animais.


A brisa leva o pólem

Da flor que cresceu

No carbono do último defunto.


Alguém, séculos antes de mim,

Alimenta minha alimentação.

A morte vai nutrindo, assim,

A vida sobre este chão.

FANTASIA


Existia um castelo de bonecas
Em meio a uma floresta.
Só uma criança de azas...
Anjo que fujiu de casa.

Meu príncipe boneco
Com você quero brincar.
Enquanto as estrelas brinham,
Antes do sonho terminar.

A eternidade se eternizou
Em apenas um instante,
Momento que passou...
Folhas secas ao chão.

É minha propriedade
Com sabor de eternidade.
Um paraíso de mentiras
Em busca da verdade.

FENIDILATE


Eu fiz o sistema solar.
Organizei os planetas.
Formulei a terra e o ar.
Brinquei com os cometas.

Sou a dona do universo.
As galaxias consolei.
Botei palavras no verso.
E coisas que nem sei.

Dormi com o sol.
Minha filha é a lua.
Na luz do arebol,
Sou Vênus, nua.

Acho que vou enlouquecer,
Mas meu corpo palpita.
Mesmo querendo não querer,
Uma Deusa em mim grita.