sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Tenho medo






Uma noite sozinha.



Mais outra noite-solidão.



Ilusão era tudo o que tinha.



Nem mais febre ou paixão.






Novamente acordo suada,



Correndo dos meus fantasmas.



No quarto não há nada,



Nem razão para lágrimas.






Se um alguém gritar,



Me engano não ouvir.



Se alguém me tocar,



Sequer resta um sentir.






Meus pais não perceberam



Que eu precisava de atenção.



Ainda não se arrependeram



Para salvar meu coração.






Outra vez desperto gritando.



Vendo coisas, seres irreais.



Velo a noite terminando...



Chega! não quero mais.






Lavo o rosto, está desesperado.



Reflexo horrível no espelho.



Lágrimas, dor, suor gelado.



Preciso amparo, conselho.






Outra noite sozinha.



Mais uma noite-sofrimento.



Ilusão era tudo o que eu tinha.



Não aguento mais.






sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Ler e Escrever - Nietzsche


De todo escrito só me agrada aquilo que a pessoa escreveu com seu sangue. Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é o espírito.

É dificil compreender sangue alheio: Eu detesto todos os ociosos que lêem. O que conhece o seu leitor já nada faz por seu leitor. Um século de leitores e o próprio espírito terá mal cheiro [...]

Noutro tempo o espírito era Deus; depois fez-se homem; agora fez-se populança.

O sangue escreve em máximas e com sangue não quer ser lido, mas decorado. Nas montanhas o caminho mais curto é o que medeia de cimo a cimo; mas para isto é preciso ter pernas altas [...]

O ar leve e puro, o próximo perigoe o espírito cheio de uma leve malícia, tudo isso se armoniza bem. Eu quero ter duendes em torno de mim porque sou valoroso. O valor que afugenta os fantasmas cria os seus próprios duendes; o valor quer rir.

Eu já não sinto um uníssono convosco; esta núvem que vejo abaixo de mim, esse negrume e o carregamento de que me rio, é exatamente a vossa núvem tempestuosa. Vós olhais para o alto quando desejais vos elevar. Eu como sou alto, olho para baixo.

Qual de vós pode estar alto e rir ao mesmo tempo?

O que escala elevados montes ri-se de todas as tragédias de sena e da vida. Valorosos, despreocupados, zombeteiros, violentos, eis como nos quer a sabedoria.[...]

Vós dizei-me: "a vida é uma carga pesada". Mas para que é vosso orgulho pela manhã e vossa submissão a tarde?

A vida é uma carga pesada mas não vos mostreis tão aflitos. Todos somos jumentos carrgados.

Queparecença temos com o cálice de rosas que treme porque oprime a gota de orvalho?

É verdade; amamos a vida não porque estamos acostumados à vida, mas ao amor.

Há sempre um que de loucura no amor; mas também há sempre um que de razão na loucura. E eu que estou bem na vida, creio que para saber de felicidade não há como as borboletas e as bolhas de sabão, e o que lhes assemelha entre os homens.

Vou revolutear estas almas aladase loucas, encantadoras e rebuliças, é o que arranca a Zaratustra lágrimas e canções.

Eu só podia crer em um Deus que soubesse dançar.

E quando vi me Demônio, pareceu-me sério, grave, profundo e solene: era o espírito do pesadelo. Por ele caem todas as coisas.

Não é com raiva, mas com riso que se mata. Adiante! matemos o espírito do pesadelo!

Eu aprendi a andar, por conseguinte corro. Eu aprendi a voar portanto não quero que me empurrem para mudar de lugar.

Agora sou leve, agora vôo, agora vejo por baixo de mim, agora salta em mim um deus.

DOR


Juntou muitas flores.

Correu ao encontro, criança.

Cheia de alegria e amores.

Esperou até apagar esperança.


- Mamãe, onde está você?

Te fiz um altar no coração.

Por dias aguardei, mas cadê?

Só tenho tu, meu Deus ilusão.


Sentadinha no gramado,

Vinham lágrimas e canções.

Sem ninguém ao lado.

Visionária das grandes paixões.


Dormiu esperando aza divina.

Sujou o bonitinho vestido.

Pequena, não vê tua sina?

Solidão! ninguém contigo!


Alice, por fora cresceu.

O mundo é fantasia e arte!

História, literatura entendeu.

Viu beleza em toda parte.


Trago-lhe flores, meu amor.

Flores de uma espécie mental.

Trago-lhe lágrimas e dor...

Ofereço a vida anormal.


Contempla teu sofrimento.

Tenta fazer a própria travessia.

Sente Deus no impetuoso vento.

Transforma a realidade vazia.


Criança de toda a opressão.

Cinco mil "bruxas" queimaram.

Como perdoar morte e prisão?

Todas as mentiras que passaram...


Não entendo esta realidade.

Não entendo o Deus da dor.

Não pode proibir liberdade.

Dou flores ao Deus do amor.


Sou menina, quero ser santa.

Sou boba, quero ser luta.

Mas meu Deus não levanta!

Ele nao está, só minha busca!


Já cresceu, tornou-se mulher.

O que vê é delírio, loucura.

Teu sonho é vão, quem quer?

O desejo é doença, tenta a cura.


Sou adulta me tornei animal.

Minha menina interna é solidão.

Me recuso a ser um racional.

Lhe trago flores, Deus paixão.


As flores murcharam.

Lágrimas, melancolia.

Projetos me abandonaram.

Morte mental, letargia.


Segura-me mãos petrificadas,

Pupilas dilatadas.

Mas eu sei:

Toda busca é nada!


Não sou mais eu,

Sou o Sol...

Onde meu Eu se meteu?

Preciso de Haldol.


O corpo cai.

A mente já caiu,

Tanto...tanto tempo

O eu se tornou vento.


Precisava lamentar.

A ilusão é ilusão,

Que é a vida então?

Esta é tua sina.

Não é vida.

Carbacaína.


Flores secas de calor...

O que é o amor?

Extensão da nossa dor!

Morfina...Por favor!